Tribuna Cívica e Marcha da Indignação

Mais de 300 pessoas manifestaram-se no domingo 19 de Outubro de 2008 em Nisa, contra a eventual exploração de urânio no concelho, num protesto que reuniu ecologistas, autarcas e agricultores. Os manifestantes, onde se destacava grande presença de jovens, percorreram os dois quilómetros que separam a vila alentejana da principal jazida de urânio do concelho gritando, entre outras palavras de ordem, "Urânio em Nisa não", "Não, não, não à contaminação".
A iniciativa foi do Movimento Urânio em Nisa Não (MUNN), da Quercus e de várias entidades locais, como o município, a associação comercial, Associação de Desenvolvimento de Nisa, Terra-Associação para o Desenvolvimento Rural e Associação Ambiente em Zonas Uraníferas.
Nos cartazes podia ler-se: "Contra o urânio por um respirar saudável", "Nisa diz não ao urânio", "Nisa sim, urânio não".
Numa tribuna cívica realizada durante a manhã, ex-trabalhadores das minas da Urgeiriça (Nelas) prestaram o seu depoimento contra a exploração deste minério na região. Outras intervenções apontaram para a responsabilização do Estado, acusado de crimes contra a saúde dos trabalhadores por negligência de informação quanto aos riscos decorrentes do contacto prolongado com urânio. Foi ainda exigida a aceleração da recuperação ambiental da zona, onde existem mais de seis dezenas de minas abandonadas, águas poluídas e materiais tóxicos espalhados de forma incontrolada.
O concelho de Nisa, no distrito de Portalegre, possui no seu jazigo inexplorado de urânio um potencial que ronda os 6,3 milhões de toneladas de minério não sujeito a tratamento, 650 mil quilos de óxido de urânio e 760 mil toneladas de minério seco.
Para a presidente do município local, Gabriela Tsukamoto, a eventual exploração de urânio em Nisa "é uma incógnita, porque não se sabe as consequências em termos de saúde pública, ambientais e em termos económicos". Para a autarca, "é preferível pegar nos recursos do concelho, como os queijos, os enchidos, os bordados, o termalismo e torná-los mais sustentáveis".
O responsável do núcleo regional de Portalegre da associação ambientalista Quercus, Nuno Sequeira, disse à agência Lusa que a acção de contestação "pretende sensibilizar o Governo para recusar o avanço da exploração de urânio na zona de Nisa". Para ele, "é importante não esquecer os erros cometidos em toda esta actividade na zona centro do país, as marcas familiares, dramas de saúde e ambientais e alertar para as consequências gravosas que poderá trazer para o concelho de Nisa e para o distrito", avisou.